Por mais que as emissoras de TV no Brasil se intitulem imparciais, não é preciso ser um especialista para perceber que as maiores empresas de comunicação do país tomam posições parciais em muitos casos que julgam pertinente aos seus interesses editoriais e econômicos. A Rede Globo, assim como outros veículos da mesma organização, sempre estiveram ligados aos mais diversos acontecimentos históricos e políticos. Até esta quarta-feira (02), quando o Congresso Federal votou pelo arquivamento da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), contra o presidente Michel Temer (PMDB), por 263 votos favoráveis contra 227 pela aceitação da denúncia, a Globo, segunda maior emissora do mundo, era amplamente temida por ditar as regras de quem entrava e saía do poder.
A Globo apoiou a ditadura militar (golpe de 64) e somente em 2013, reconheceu em editorial lido no “Jornal Nacional”, ter sido um erro sua posição adotada na época. Historicamente, a emissora colocou Fernando Collor de Mello na presidência e após o surgimento de denúncia, contribuiu com o seu impeachment. Em 2016, a petista Dilma Rousseff, também sofreu impeachment, devido crime de responsabilidade e indiretamente pela crise política e econômica que o país atravessava. Mais uma vez, a Globo foi uma das forças mais críticas pelo afastamento da presidente.
Com Michel Temer, utilizando novamente sua importância como formadora de opinião, a Globo não escondeu seu objetivo: tirar o presidente do cargo. Sua posição ficou bem clara no editorial “A Renúncia do Presidente”, de “O Globo”, o mesmo jornal que trouxe em primeira-mão, “vazamentos” da delação e gravação feita por Joesley Batista (JBS), que gerou a denúncia contra Temer. Após a divulgação dos supostos diálogos, o STF liberou os áudios para a imprensa, mais de um dia depois que o “estrago político” já havia tomado grandes proporções, revelando diferenças nítidas entre o que havia sido divulgado pelo jornal e o real teor das conversas entre Temer e Batista. A Revista Época e o Jornal Nacional também focaram de forma insistente e até demasiada, a instalação de uma nova crise política causada pelas delações premiadas da JBS. E não é só com o jornalismo que a emissora bateu meses na mesma tecla. O humorístico “Zorra” chegou ao ponto de derreter o presidente da República.
O dia da votação chegou e alegando compromisso jornalístico, de forma inédita, a Globo interrompeu a novela das 18h e seguiu até o último voto com um plantão ao vivo que acabou derrubando o “Praça TV”, a novela das 19h, o Jornal Nacional e até a novela das 21h. A programação só voltou ao normal com o início do futebol. Em termos de audiência, a emissora apresentou uma das menores médias dos últimos dois anos, na Grande SP. SBT, RecordTV e Band, que seguiram com programação normal, tiveram crescimento em seus números, nesta quarta-feira (02).
Enquanto a Globo se manteve intacta focando na visibilidade da sua cobertura, o que teoricamente poderia influenciar na decisão de alguns deputados, as demais emissoras apresentaram poucos flashes da votação e uma cobertura jornalística sem muito alarde, em seus telejornais. No processo de admissão do impeachment de Dilma, apenas o SBT seguiu a programação normal, o que lhe garantiu uma alta audiência.
Caso a PGR não apresente novas denúncias contra Temer, antes da posse da nova procuradora, que assume em setembro, mantida a mesma base aliada, dificilmente o presidente seja afastado do cargo, o que representa uma derrota política histórica para as Organizações Globo. Se Collor, Dilma ou Temer são ou não inocentes das acusações é uma outra questão. O que se discute é o poder da Família Marinho nos rumos do país. Uma emissora que chega a ironizar a alcunha “Globo Golpista”, em seus humorísticos, passou a ter sua primeira tentativa frustrada em ditar as tendências da política nacional. Nunca antes na história deste país, a Globo havia levado um “xeque-mate”.